
Publicada em 03/06/2025 às 11h12
Porto Velho, RO – O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero), Marcelo Thomé, defendeu a abertura de um debate nacional sobre a exploração econômica de terras indígenas. A declaração foi feita durante entrevista ao podcast Resenha Política, apresentado pelo jornalista Robson Oliveira. Para Thomé, o modelo atual de proibição não impede a destruição e impede o desenvolvimento legal da região.
“Não concordo com o modelo atual. Defendo que a gente discuta um novo modelo, com responsabilidade e foco”, afirmou. Segundo ele, “toda atividade econômica gera impacto”, mas a formalização permite mitigar danos com uso de tecnologia e divisão de riquezas com o Estado e comunidades locais. Como exemplo, citou o Canadá, onde povos indígenas são empregados ou recebem royalties de atividades econômicas formais.
Ainda sobre o tema, Thomé reforçou que a mera proibição não tem evitado a destruição. “A gente está perdendo riqueza, criando mazelas sociais aos povos originários e enriquecendo muito poucos, destruindo a floresta”, declarou.
Outro ponto sensível abordado na entrevista foi a atuação da Assembleia Legislativa de Rondônia. Ao comentar sobre leis estaduais que reduzem áreas protegidas, Thomé reconheceu o impacto negativo dessas iniciativas no o a mercados internacionais.
“Esse tipo de prática que retarda a equação para um modo produtivo sustentável [...] pode restringir o o de Rondônia aos melhores mercados”, disse.
Thomé também criticou a lentidão do Brasil em regulamentar o mercado de carbono e defendeu a criação de uma agência reguladora independente. Ele alertou para os riscos da falta de controle:
“Sem regra, pode acontecer o absurdo de compensar a emissão de alguém que continua promovendo destruição em outro lugar. [...] A legislação brasileira vai ter que autorizar como o mercado vai funcionar”, explicou.
No campo das finanças, o presidente da Fiero afirmou que o o a crédito já está sendo negado a produtores com ivos ambientais ou irregularidades fundiárias. “Quem continuar produzindo em área irregular não vai ar crédito. Isso é definitivo”, declarou.
Durante a entrevista, Thomé também defendeu a concessão da BR-364 à iniciativa privada, alvo de críticas por parte de parlamentares. “O Estado brasileiro é incapaz de fazer esse investimento. Nunca fez”, afirmou. Segundo ele, o modelo licitado prevê R$ 10 bilhões em investimentos ao longo de 30 anos, com cláusulas que garantem novos aportes caso o fluxo de veículos aumente.
Após as declarações mais contundentes, Thomé apresentou um panorama sobre a industrialização de Rondônia. Segundo ele, há cerca de 5.700 indústrias ativas no estado, responsáveis por 57 mil empregos diretos e por aproximadamente 15% a 16% do Produto Interno Bruto estadual.
Ele destacou o crescimento de setores como nutrição animal e piscicultura, citando a expansão da produção de ração — de três para mais de 40 empresas — e a abertura de novos mercados para exportação de peixe.
“Rondônia exporta para mais de 90 países”, afirmou. A carne bovina, segundo ele, continua sendo o carro-chefe, com um rebanho estimado entre 15 e 16 milhões de cabeças.
Thomé alertou ainda para os efeitos das mudanças climáticas sobre o estado. Segundo ele, 16 municípios de Rondônia enfrentaram crise hídrica em 2023. “Quando eu cheguei aqui, era impensável discutir escassez hídrica na Amazônia. Isso já está batendo à nossa porta”, disse.
Como resposta, a Fiero articula iniciativas para conectar produtores a fontes de financiamento, como a plataforma Facility de Investimentos Sustentáveis, criada a partir do Instituto Amazônia Mais 21. A ideia é oferecer assistência técnica para viabilizar projetos sustentáveis e facilitar o o ao crédito, especialmente para pequenos empreendedores.
Ao final da entrevista, Thomé se mostrou otimista com a possibilidade de mudanças estruturais a longo prazo, apesar dos ciclos políticos. “O setor privado precisa liderar uma agenda de enfrentamento à pobreza na Amazônia, consorciado ao Estado, mas com visão de longo prazo”, concluiu.
