
Publicada em 14/06/2025 às 09h46
Porto Velho, RO – Os bastidores da política rondoniense foram sacudidos ao longo da última semana por declarações públicas, documentos enviados ao Ministério Público e registro de Boletim de Ocorrência (BO), em contrapartida, que intensificaram o clima de instabilidade entre lideranças do Executivo estadual. O centro da controvérsia envolve o deputado Marcelo Cruz (PRTB), o ex-chefe da Casa Civil Júnior Gonçalves, o governador Marcos Rocha e seu vice, Sérgio Gonçalves (União Brasil).
O primeiro movimento partiu de Marcelo Cruz, que apresentou ao Ministério Público de Rondônia uma representação formal na qual alega ameaças à sua integridade física, vazamento de informações sigilosas e possível utilização de aparato do Estado com objetivos políticos. Segundo o parlamentar, os fatos relatados são graves e exigem resposta urgente das instituições fiscalizadoras.
O Governo do Estado respondeu por meio de nota oficial, na qual afirmou não ter sido notificado formalmente sobre a denúncia e reiterou compromisso com a legalidade, a ética e a transparência istrativa. Sem mencionar diretamente os nomes envolvidos, a nota também reforçou que eventuais divergências devem ser resolvidas no âmbito das instituições competentes.
Horas depois, em entrevista coletiva, Júnior Gonçalves – que presidiu a Casa Civil até sua exoneração – também afirmou ser alvo de uma campanha sistemática de destruição de imagem, o mesmo tipo de perseguição alegada por Cruz, inclusive envolvendo um nome em comum. Disse ainda que sofre perseguição institucional, mencionando supostas interferências na Polícia Civil e a existência de um grupo com o à máquina pública atuando para inviabilizar sua atuação política e pessoal.
Ainda na sexta-feira (13), o governador Marcos Rocha, em missão oficial em Israel, comentou brevemente a situação por meio de uma live. Preferiu não se aprofundar nos temas abordados por Júnior e Marcelo, limitando-se a dizer que está focado nas ações de governo e que “quem quiser atrapalhar, fique quieto”. Rocha declarou: “O que eu faço é simplesmente buscar o desenvolvimento do nosso estado (...). A gente que é do bem vai lutar contra essas pessoas para fazer o que é certo pelo nosso estado”.
A repercussão das declarações provocou reações, principalmente por parte do vice-governador Sérgio Gonçalves. Em entrevista ao programa “A Voz do Povo”, apresentado por Arimar Souza de Sá, o vice deixou claro que não pretende renunciar ao mandato e reforçou sua pré-candidatura ao Governo de Rondônia. Ao comentar a situação envolvendo seu irmão, afirmou que Júnior Gonçalves prestou relevantes serviços ao Estado e teria se tornado alvo de uma campanha de destruição reputacional após deixar o cargo. “Tem um grupo estruturado, que come da mesma comida que eu como, tentando inviabilizar minha pré-candidatura”, disse. Sérgio reforçou que Rondônia “não é terra sem lei” e defendeu o devido processo legal.
Durante a entrevista, Sérgio também abordou rumores de que poderia ocupar uma vaga no Tribunal de Contas ou disputar outro cargo. Negou qualquer articulação nesse sentido e declarou: “Não estou à venda. Tenho um mandato como vice-governador e pretendo avançar até o fim do mandato”. Em seguida, fez uma analogia direta ao ambiente político: “Um jogo de xadrez tem várias peças, inclusive o peão. E é importante deixar claro: o vice-governador Sérgio Gonçalves não é peão no jogo de xadrez de ninguém”.
Sobre sua relação com o governador, o tom adotado foi cauteloso. Sérgio Gonçalves reconheceu que a convivência é “protocolar” e afirmou desejar que haja união, mas indicou que há ruídos internos. Disse acreditar que Marcos Rocha não está diretamente envolvido nas ações de boicote, mas defendeu que os responsáveis sejam identificados e punidos. “O jogo precisa ser limpo, não pode ser sujo”, declarou.
A entrevista escancarou a existência de uma possível ruptura política entre o governador e seu vice, ainda que envolta em declarações conciliatórias. Quando questionado se estava do lado do irmão ou do governador, Sérgio respondeu que está ao lado da população e que sua prioridade é “resolver os problemas da dona de casa, do agricultor, do pequeno empresário”.
O cenário revela um embate interno cada vez mais visível, com desdobramentos ainda incertos. Em meio a essa turbulência, a população observa e aguarda soluções para problemas concretos como saúde, infraestrutura e segurança. É nesse contexto que a estabilidade política se torna não apenas um desejo, mas uma necessidade.
Com os fatos ainda em apuração, o que se exige das instituições é vigilância, compromisso com a legalidade e, acima de tudo, responsabilidade. Quando acusações e contraposições surgem em meio ao jogo político, é dever do Estado proteger a democracia sem abrir mão da transparência — e do respeito mútuo entre seus representantes.
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