
Publicada em 07/06/2025 às 10h03
Porto Velho, RO – Com o calendário eleitoral de 2026 no horizonte, o cenário político em Rondônia intensifica suas movimentações, revelando um tabuleiro complexo onde diferentes forças buscam se posicionar e consolidar espaços. A semana que ou, compreendida entre 31 de maio e 07 de junho, trouxe à tona uma série de articulações, projeções de candidaturas e o impacto direto de decisões judiciais que prometem reconfigurar parte da representação do estado nos próximos anos. A dinâmica observada aponta para uma disputa acirrada, tanto no âmbito estadual, com as cadeiras da Assembleia Legislativa em jogo, quanto no federal, com a renovação da bancada na Câmara dos Deputados e as duas vagas em disputa no Senado Federal.
Um dos temas que dominou o noticiário político local foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a distribuição das sobras eleitorais e a consequente determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a retotalização dos votos das eleições de 2022. Essa medida, com aplicação retroativa, gerou um clima de incerteza e apreensão, especialmente para os parlamentares eleitos sob a regra anterior. Em Rondônia, o impacto mais imediato dessa decisão recai sobre o deputado federal Eurípedes Lebrão (União Brasil), que, segundo projeções, deve perder seu mandato em favor de Rafael Fera (Podemos). A situação de Lebrão não é isolada, refletindo um cenário nacional onde outros deputados federais também aguardam o desfecho da retotalização.
A decisão do STF, que amplia o o às sobras eleitorais para todos os partidos, independentemente de terem atingido o quociente eleitoral, busca corrigir o que foi considerado uma distorção no sistema proporcional. No entanto, a retroatividade da medida levanta debates acalorados sobre a segurança jurídica e a estabilidade dos mandatos, com vozes no Congresso Nacional, como a do presidente da Câmara, Hugo Motta, defendendo que a nova regra só deveria valer a partir de 2026. A forma como o Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE-RO) conduzirá esse processo de retotalização e a clareza na comunicação dos resultados serão cruciais para a transparência e a aceitação do desfecho, que pode ir além da troca de cadeiras na Câmara Federal.
Paralelamente aos desdobramentos da retotalização, o cenário político rondoniense assiste à emergência de novos nomes que buscam se consolidar para as eleições de 2026. No pleito para a Câmara Federal, destacam-se as primeiras-damas Luana Rocha e Joliane Fúria, esposas do governador Coronel Marcos Rocha, do União Brasil, e do prefeito de Cacoal Adailton Fúria, do PSD, respectivamente. Ambas têm utilizado suas posições e a força das redes sociais para construir uma imagem pública e capitalizar a popularidade de seus maridos, ensaiando uma transição para a vida político-partidária. A aposta em discursos moderados e a associação a gestões bem avaliadas parecem ser a estratégia para atrair votos em um estado com forte inclinação conservadora.
Outros nomes mencionados como potenciais candidatos a deputado federal incluem o atual prefeito de Vilhena, Delegado Flori, que já disputou o cargo em 2022, e o empresário Fernando Villas-Boas, de Ariquemes, visto como uma possível surpresa na disputa. Para a Assembleia Legislativa, a renovação também se anuncia com nomes ligados à base do governo, como Sandro Rocha, à frente do DETRAN, e Coronel Vital, secretário de Segurança Pública, que buscam consolidar suas imagens através de suas atuações no executivo estadual. Além deles, lideranças com forte atuação no interior, como o ex-prefeito e ex-presidente da Arom, Célio Lang, e o empresário Ninho Testoni, filho do prefeito de Ouro Preto, demonstram a força política das diferentes regiões do estado e a busca por representatividade no parlamento estadual. A ambição de vereadores de Porto Velho em ascender à Assembleia Legislativa, como Márcio Pacele, também movimenta o cenário na capital, indicando uma disputa interna no campo político local.
A articulação das forças de centro-esquerda em Rondônia também ganhou destaque na última semana com o lançamento da "Caravana Esperança". Essa frente, que reúne oito partidos, incluindo MDB, PDT, PT, PCdoB, PV, Rede, PSB e PSOL, busca reorganizar o campo progressista no estado e apresentar uma alternativa ao bloco conservador dominante. O senador Confúcio Moura (MDB) emerge como a figura central dessa articulação e o principal nome cotado para a disputa pelo governo estadual. Sua proximidade com o presidente Lula, do PT, confere-lhe um papel estratégico na ponte entre Brasília e Rondônia, mas também representa um desafio em um estado de forte apelo bolsonarista.
A baixa popularidade do governo federal em Rondônia exige que a "Caravana Esperança" e seus líderes, como Confúcio Moura, busquem um discurso equilibrado e propostas que dialoguem com as demandas locais, superando as barreiras ideológicas. A presença de outras figuras políticas experientes, como o ex-senador Acir Gurgacz, e a união de diferentes legendas demonstram o esforço em construir uma frente ampla, apesar dos desafios internos e da necessidade de superar o esvaziamento do MDB no estado, com o aparente distanciamento de figuras históricas como Raupp, Marinha e Mosquini.
No âmbito da política nacional, Rondônia também se tornou palco para a projeção de candidaturas à presidência da República. A visita do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), à Rondônia Rural Show, em Ji-Paraná, marcou o início de sua incursão pela região Norte em busca de apoio para 2026. Caiado, que tem se destacado por sua gestão em Goiás, especialmente na área de segurança pública, busca apresentar uma plataforma nacional com foco em temas como segurança e saúde, pautas que encontram ressonância em Rondônia, um estado com forte peso no agronegócio.
A presença de um pré-candidato à presidência em um evento de relevância regional como a Rondônia Rural Show reforça a importância estratégica do estado no cenário político nacional e a busca por votos e alianças em diferentes partes do país. O agronegócio, aliás, continua a exercer uma influência considerável na política rondoniense, moldando pautas e impulsionando candidaturas ligadas ao setor. A Rondônia Rural Show, ao reunir produtores, empresários e políticos, funciona como um termômetro das demandas do setor e um espaço privilegiado para articulações políticas.
A disputa pelas duas cadeiras do Senado Federal em 2026 em Rondônia também se anuncia com um cenário de fragmentação no campo bolsonarista. O ex-presidente Jair Bolsonaro já sinalizou seu apoio a dois nomes: o pecuarista Bruno Scheid, o "Bruno Bolsonaro", do PL, e o deputado federal Fernando Máximo, do União Brasil. Essa preferência declarada gera uma disputa interna e pode reorganizar o campo conservador, onde outras lideranças igualmente expressivas se movimentam para ocupar espaço. Entre elas, está a deputada federal Silvia Cristina (PP) e até mesmo Coronel Marcos Rocha. Isto, sem contar seu vice, Sergio Gonçalves, pré-candidato à sucessão. No caso da chefia do Executivo estaudal, Bolsonaro tende a abraçar o senador Marcos Rogério, do PL.
Essa divisão no campo conservador pode pulverizar votos e abrir espaço para outras candidaturas, tornando a corrida pelo Senado uma das mais imprevisíveis do próximo pleito. A forma como as diferentes alas do bolsonarismo se articularão e a capacidade de superarem as divergências internas serão determinantes para o resultado final.
A corrida pelas vagas no Senado, assim como as disputas pela Câmara Federal e Assembleia Legislativa, refletem a complexidade do cenário político rondoniense, onde novas lideranças emergem, decisões judiciais impactam o quadro atual e as articulações para 2026 se intensificam. A semana política em Rondônia demonstrou que o estado está em pleno movimento, com diferentes forças se organizando e buscando consolidar suas posições para o próximo ciclo eleitoral, em um ambiente marcado por incertezas e a constante busca por espaço político.