
Publicada em 31/05/2025 às 10h02
Porto Velho, RO – O senador Marcos Rogério (PL-RO) está novamente no centro das atenções nacionais. Mas, diferentemente dos holofotes desejados, desta vez a visibilidade parece ter vindo acompanhada de críticas, cobranças e um movimento crescente por sua cassação. Desde que declarou, em tom autoritário, à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva: “Se ponha no seu lugar”, a trajetória do parlamentar ou a ser revista sob a ótica de sua conduta política e pessoal.
As declarações foram feitas durante audiência pública no Senado, no dia 27 de maio, e logo se tornaram alvo de repúdio por organizações da sociedade civil, políticos e, principalmente, pelo Ministério das Mulheres, que classificou o episódio como “misógino”. Na ocasião, Marina Silva havia reagido às interrupções do senador afirmando: “O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa. E eu não sou.” Rogério rebateu com voz empostada e postura de enfrentamento. “Me respeite, ministra. Se ponha no seu lugar”, disparou.
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Esse mesmo Marcos Rogério, que se impôs com veemência diante de uma mulher negra em posição de liderança, calou-se quando confrontado por homens. Em fevereiro de 2024, durante uma festa em Brasília, o senador foi repreendido pelo então diretor-geral do Detran–RO, Léo Moraes, atualmente prefeito de Porto Velho. O embate verbal teria culminado com um empurrão, deixando o senador visivelmente intimidado. O caso foi noticiado por veículos como o Entrelinhas e o Correio de Notícias. Ao Rondônia Dinâmica, Moraes suavizou o caso, tratando o assunto como "discussão forte". Rogério nunca deu um pio a respeito.
RELEMBRE
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Outro episódio ganhou destaque nas redes sociais quando o perfil @noticiasportovelho compartilhou um vídeo antigo em que o senador aparece sendo verbalmente confrontado por um apoiador bolsonarista, que o acusa de incoerência política. Na gravação, o homem o interpela com firmeza, enquanto Rogério, visivelmente desconcertado, nada responde.
“O vídeo é antigo e está fora de contexto”, limitou-se a dizer o senador nos comentários da publicação. Mesmo assim, sua falta de reação foi motivo de chacota entre internautas.
E AINDA
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É esse contraste que salta aos olhos da opinião pública: Marcos Rogério age como um pitbull ideológico quando confronta mulheres, mas se comporta como um Chihuahua acuado diante de outros homens. A imagem construída pelo senador — de defensor ferrenho dos valores conservadores — parece ruir frente às próprias atitudes.
Não é a primeira vez que Marcos Rogério protagoniza episódios polêmicos. Desde a I da COVID-19, quando atuou como escudeiro do governo Bolsonaro, o senador buscou se projetar nacionalmente. Antes disso, iniciou a carreira como congressista em Brasília já no PDT, partido de centro-esquerda à qual pertenceu de 2007 a 2018, onde defendeu pautas progressistas e apoiou líderes trabalhistas, chegando inclusive a respaldar parte do governo Dilma Rousseff — ainda que tenha votado a favor do impeachment. Depois, já no DEM, ou a se alinhar ao centrão e, por fim, consolidou-se como figura do bolsonarismo dentro do PL.
Em sua tentativa de reposicionamento político, Marcos Rogério também se envolveu com o movimento religioso “Legendários”, que prega a transformação de homens por meio da fé. Subiu a montanha em Manaus, participou dos ritos do grupo, mas, ao que tudo indica, a experiência espiritual teve pouco efeito sobre sua conduta. Rogério subiu a montanha, mas não desceu do salto.
Nas redes sociais, após a repercussão da audiência com Marina Silva, o senador alegou estar sendo vítima de “censura” e afirmou que a ministra teria se comportado de forma desrespeitosa. "Ela começou a bater no meu braço algumas vezes. Imagina se fosse o contrário", declarou. Ele também negou misoginia, sustentando que sua frase foi apenas uma referência à hierarquia institucional.
Apesar da tentativa de justificar sua postura, os danos à imagem política de Marcos Rogério já estavam em curso. Um abaixo-assinado organizado pelo movimento Mulheres Em Luta (MEL), com apoio da ex-deputada Manuela D’Ávila, já acumula mais de 80 mil s pedindo sua cassação por violência política de gênero e raça. A petição afirma que frases como “se ponha no seu lugar” representam tentativa de calar e expulsar mulheres negras dos espaços de poder.
No fim das contas, o senador de Rondônia parece ter alcançado, mais uma vez, aquilo que tanto persegue: a exposição nacional. Mas, ao contrário do que esperava, essa publicidade agora se volta contra ele. A imagem do “pitbull” da extrema-direita foi arranhada por suas próprias contradições, e a montanha de críticas tende a crescer — a menos que ele, finalmente, decida descer do salto.