
Publicada em 24/05/2025 às 09h31
Porto Velho, RO – Apesar de estar inelegível, o ex-governador de Rondônia Ivo Cassol (PP) continua sendo tratado com reverência por políticos com mandato. Em diferentes espectros partidários, o nome do ex-senador surge não apenas como inspiração, mas também como referência prática de liderança. Mesmo sem poder disputar eleições, ele é colocado no centro de articulações para 2026 e aparece bem posicionado nas pesquisas de opinião pública.
O prefeito de Cacoal, Adailton Fúria (PSD), foi direto ao expressar sua iração. Em entrevista ao podcast Pod Êgo, conduzido pelo jornalista Diego Maia, Fúria afirmou: “Eu posso te dizer que eu sou fã de carteirinha dele”. Acrescentou que sonha em ser o melhor governador da história do estado, superando justamente seu ídolo. “Quando eu era jovem, eu sonhava em ser político, e eu sonhava em ser como o Ivo, um homem trabalhador, um cara que vai pra cima”, declarou.
O apoio, segundo Fúria, é espontâneo. “Eu manifestei interesse em apoiar ele. Eu acho que não tem pra ninguém, tem que todo mundo ir pra casa, cada um caçar o rumo de casa, e o Ivo Cassol vai ser, sim, o governador do estado de Rondônia.”
No Congresso Nacional, o deputado federal Thiago Flores (Republicanos) também não economizou deferência ao ex-governador. Conforme registrado na coluna Opinião de Primeira, do jornalista Sérgio Pires, Flores afirmou: “Cassol é prioridade total”. Disse que colocará seu nome à disposição apenas se a candidatura de Cassol não for confirmada, alegando que os nomes postos até o momento “não são das candidaturas mais fortes”.
Essas manifestações de apoio, no entanto, colidem com a realidade jurídica enfrentada por Cassol. Segundo análise do colunista Robson Oliveira, publicada na Resenha Política, o ex-governador permanece inelegível. Um agravo deferido recentemente pelo presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia não reverteu sua situação — apenas determinou que o relator de origem analise se houve dolo específico na condenação por improbidade istrativa. “Como não tem efeito suspensivo, Ivo Cassol continua inelegível, para desagrado das ‘de cujas’”, escreveu Oliveira, chamando de “lorota” a insistência na viabilidade da candidatura.
Cassol, de fato, coleciona condenações e tropeços eleitorais. Em 2013, o Supremo Tribunal Federal o sentenciou a quatro anos e oito meses de prisão em regime semiaberto por fraudes em licitações enquanto prefeito de Rolim de Moura, entre 1998 e 2002. Em 2022, tentou disputar novamente o governo, mas precisou retirar a candidatura às pressas para não ser barrado pela Justiça. Além disso, falhou repetidamente ao tentar transferir capital político a terceiros. A esposa Ivone Cassol não se elegeu, assim como Júnior Raposo, Ivan da Saga e DJ Maluco, todos nomes lançados sob sua influência.
Apesar disso, os números mostram que sua popularidade entre o eleitorado permanece relevante. Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas realizado entre os dias 9 e 13 de abril de 2025, com 1.640 eleitores em 35 municípios, apontou Cassol com 26,2% das intenções de voto para o governo de Rondônia, atrás apenas do senador Marcos Rogério (PL), que aparece com 27,1%. Em simulações com menos nomes, o ex-governador mantém desempenho competitivo, disputando ponto a ponto a liderança.
Cassol, natural de Concórdia (SC), iniciou sua trajetória pública em Rondônia como prefeito de Rolim de Moura, cargo que exerceu entre 1997 e 2002. Elegeu-se governador em 2002, foi reeleito em 2006 e, em 2010, conquistou uma cadeira no Senado Federal. Sua família tem histórico político consolidado e é também conhecida pela atuação empresarial no setor elétrico, com pequenas centrais hidrelétricas.
A força que o ex-governador ainda exerce sobre figuras públicas como Fúria e Flores levanta questionamentos sobre o real tamanho de sua influência. O cenário atual indica que, apesar da idolatria de aliados e da performance em pesquisas, sua capacidade de transformar apoio em vitórias concretas tem se mostrado limitada.
A dúvida que se impõe é se Ivo Cassol continua mesmo com essa “bola toda” — ou se o que vemos é mais reflexo da carência de lideranças carismáticas no estado do que de sua força política real.