
Publicada em 10/06/2025 às 16h26
Porto Velho, RO – Em pronunciamento incisivo na tribuna do Senado, o senador Confúcio Moura (MDB-RO) confrontou a narrativa de que o Brasil é um país pacífico e afirmou que o Estado abandonou a população diante do avanço da violência. A declaração foi feita na sessão não deliberativa desta segunda-feira, 9 de junho, ao comentar a morte de Herus Guimarães Mendes, jovem de 24 anos atingido por uma bala perdida durante uma ação policial no Rio de Janeiro.
“Todo mundo chorou ao ver os depoimentos. Era filho único. Isso realmente abalou muito a estrutura emocional do povo brasileiro”, afirmou o parlamentar. Em tom mais duro, ele alertou que o número de mortes violentas no Brasil ultraa os de conflitos armados recentes. “A média brasileira é de 60 mil mortos violentamente por ano. Com trânsito e outras causas, chegamos a 120 mil. Nem a guerra na Ucrânia matou tanta gente. Nós não somos um país de paz. Temos que pôr isso na cabeça.”
Confúcio apontou a desarticulação do sistema de segurança pública como um dos principais agravantes da crise. Para ele, os estados agem de forma isolada, sem diálogo, sem integração e sem uma política nacional efetiva. “Um estado não conversa com o outro. Cada um faz o que pode, como se o Brasil fosse feito de pedaços soltos”, criticou. Segundo o senador, a ausência de um sistema de informações compartilhado entre as unidades federativas enfraquece o combate ao crime organizado.
Apesar das críticas ao modelo atual, o senador evitou qualquer ataque direto às corporações policiais. Ao contrário, defendeu melhores condições de trabalho para os agentes e cobrou valorização e qualificação continuada. “Não é criminalizando a polícia que resolveremos isso. Precisamos de equilíbrio. Precisamos de humanidade”, disse. Em sua avaliação, muitos policiais são lançados a situações extremas sem preparo, apoio psicológico ou estrutura adequada. “Estamos tratando os nossos policiais como descartáveis.”
Durante a fala, o senador defendeu uma nova política de segurança pública baseada em quatro fundamentos: valorização das forças policiais; enfrentamento ao crime organizado com uso de inteligência e integração entre estados; prevenção da violência por meio de educação, cultura e políticas sociais; e garantia dos direitos humanos. “Segurança não é só repressão. É escuta, é cuidado com a vida”, declarou.
Confúcio também mencionou que uma proposta do ministro Ricardo Lewandowski está em tramitação no Congresso Nacional e que o debate sobre segurança pública deve ser central nas eleições de 2026. “A população está amedrontada. Está aflita. E não sabe a quem recorrer.”
Ao citar a Colômbia como exemplo de enfrentamento à violência com ações sociais estruturadas, Confúcio criticou a seletividade do sistema penal brasileiro. “Lá, o direito e a pena existem para todos. Aqui, não. A lei só funciona para o pobre, para o negro, para o indígena, para o morador de rua.”
Embora não tenha citado diretamente o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), a operação que resultou na morte de Herus foi conduzida pela unidade, segundo informações da do G1. O caso, ocorrido em uma festa junina no Morro do Santo Amaro, zona sul do Rio de Janeiro, também deixou outras cinco pessoas feridas e provocou forte comoção pública.
